Candidato a prefeito de Salvador pelo Podemos, o deputado federal João Carlos Bacelar faz críticas à gestão do atual prefeito ACM Neto (DEM). Na visão do parlamentar, que foi secretário municipal de Educação no primeiro mandato do democrata, a administração atual virou as costas para 85% da cidade, que vivem em um “favelão”, em prol de uma prática de desenvolvimento que seria exclusiva ao Centro de Salvador. “Os governantes em Salvador falam muito, dizem que fazem muito e alardeiam os melhores índices quando isso só vale para um pequeno grupo”, afirmou. O deputado disse ainda que vê o número de candidaturas apoiado pelo governador Rui Costa (PT), uma estratégia questionada por aliados, como uma oportunidade. “Uma diversidade de visões para enfrentar a crise com vários pontos de convergência”. Bacelar é o quinto entrevistado pelo A TARDE, na série que o grupo prepara para ajudar o eleitor em sua decisão.
Por que o senhor quer ser prefeito de Salvador?
Eu quero ser prefeito de Salvador para colocar a mão poderosa da prefeitura a serviço de quem mais precisa. Durante décadas uma falsa ideologia imperou na nossa cidade. Uma ideologia da “Ilha da Fantasia”, como se Salvador fosse um paraíso tropical distanciado do mundo. Temos um centro da cidade onde os governantes concentram as riquezas nas mãos dos mesmos donos, concentram obras e serviços nos mesmos locais e não oferecem oportunidades principalmente para a juventude negra da nossa cidade. E eu vim para mudar isso e decifrar o enigma que faz uma cidade cuja imagem é associada à alegria, à criatividade, à beleza, à cultura ter perdido a importância no cenário político nacional e econômico. E a decifração desse enigma está ligado com a forma que essa cidade é administrada. Os governantes em Salvador falam muito, dizem que fazem muito e alardeiam os melhores índices quando isso só vale para um pequeno grupo. O resto da cidade é um favelão. Sem acesso à educação, emprego e renda. Precisamos mudar essa situação e eu me preparei a vida toda para isso. Tenho a experiência política e administrativa para conduzir Salvador no pós-pandemia.
Quais serão as prioridades de sua gestão, caso seja eleito?
Temos quatro grandes eixos. O primeiro, que considero a grande inovação, é a de governar para os bairros. A administração desta cidade precisa estar voltada para onde as pessoas moram, coisa para a qual a atual administração virou as costas. Estamos falando de 85% da cidade. Então, quando eu volto a minha visão para os bairros, que é onde as coisas acontecem, eu estou levando a prefeitura para perto de quem mais precisa, que é justamente o segundo eixo: o de governar para todos. Existem em Salvador, 1 milhão de mulheres que são chefe-solo de família, 300 mil jovens que não tem acesso à educação e ao emprego e empreendedores que não tem nenhum apoio do poder público e nós queremos levar o apoio para essas pessoas. No terceiro eixo temos a transparência de gastos. Uma nova forma de administrar a cidade com a população entendendo o que é um orçamento regionalizado. Quem mora em Itapuã vai saber quanto a prefeitura gastou em Itapuã, quem mora no Subúrbio vai saber quanto gasta em Plataforma ou em Paripe e teremos conselhos populares para fiscalizar essa administração. E no quarto eixo temos a educação cidadã. A escola como centro da comunidade resgatando o projeto do nosso grande baiano Anísio Teixeira. Relegado no Brasil e uma das maiores fontes de inspiração para a educação no mundo com o projeto da escola-parque. A educação perpassando todas as outras funções.
Como pretende agir para contribuir com a retomada econômica e o combate ao desemprego na cidade?
Buscando a criação de novas formas de economia. Nós temos na elaboração do nosso programa, o coordenador dos programas do Papa Francisco no Brasil que é uma economia solidária. Uma nova forma de capitalismo que surge em função da pandemia. Nós não teremos emprego para os milhares de desempregados pós-pandemia então o que podemos fazer? Transformá-los em empreendedores dando capacitação técnica e crédito. Vamos instituir cooperativas de crédito, presentes em cada região administrativa da cidade, que emprestará até dez mil reais para o pequeno empreendedor do bairro. Uma baiana de acarajé que precisa comprar um toldo conseguirá o crédito para isso sem burocracia, sem consulta ao SPC, sem nada. Os microempresários que criam tanta riqueza e geram tanto emprego precisam desse apoio e capital.
E pensando em ações para o público externo?
O turismo é o grande veículo de transformação econômica da cidade de Salvador. Temos um trade de turismo bastante avançado para transformar Salvador em um grande polo de turismo. Eu digo que a gente tem uma política de turismo em Salvador que é a política do Sol, Sal e Sexo. Nós não. Nós queremos um turismo cultural e ecológico. As pessoas atravessarão o mundo para visitar o Museu Nacional de Cultura Afro Brasileira e conhecer o legado que os africanos deixaram para nós. Virão aqui para conhecer um restaurante típico ao lado de um terreiro de candomblé. Viajar para praticar esportes náuticos, esse tipo de coisa. Mudar a forma como Salvador é vendida e para isso precisamos tornar a cidade agradável para os seus 3 milhões de habitantes. Depois disso, a cidade também se tornará agradável para quem nos visita.
Como o senhor avalia a postura da atual gestão no enfrentamento a pandemia?
Não posso deixar de reconhecer o esforço feito pelo prefeito e pelo governador no nosso estado. As diretrizes que Rui Costa fixou no combate à pandemia mostram que estamos no caminho certo. O grande problema da pandemia está no Pr. Jair Bolsonaro que não fez a testagem antecipada, não preparou o país para a pandemia, poderia ter fechado as fronteiras, ter feito um isolamento e ter coordenado a política de enfrentamento em um país tão grande como o Brasil.
E na área da Educação? Como o senhor tem visto as medidas tomadas para o ensino público municipal?
Se elogio o prefeito ACM Neto pelas medidas tomadas na primeira fase, devo criticar no que diz respeito ao ensino público. Estamos há 150 dias com as aulas suspensas. As aulas não podem retornar agora, primeiro temos que cuidar das vidas, mas é preciso se preparar para o retorno. As escolas sem funcionar trazem um prejuízo imenso para o país. Não é uma questão de retornar agora, mas de saber como iremos retornar e a prefeitura de Salvador não tem feito nada nesse sentido. Eu queria perguntar ao prefeito quantos professores a rede municipal tem no grupo de risco. Quantos? 20%? 30%? Esse é o passo inicial pois irá dizer quantos professores precisam ser contratados para substituir esse contingente.
Há uma discussão sobre possível alteração de data do Carnaval. O senhor é favorável à mudança do carnaval para junho?
Se não descobrirem a vacina até dezembro, não teremos outro caminho a não ser trabalhar no adiamento do Carnaval, algo que já deveria estar sendo feito. Os grandes formuladores do evento no estado já deveriam ter sido convocados pela prefeitura para discutir como se dará esse novo carnaval. O que posso dizer é que estou preocupado com os efeitos da pandemia nos trabalhadores do carnaval, do São João e de outras festividades. Eu apresentei um projeto de lei, que está tramitando na Câmara, que cria um auxílio emergencial para os trabalhadores na ordem de R$3bi. Essa medida deve atender primariamente Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro e as demais capitais nordestinas.
O senhor teceu críticas à última gestão municipal por conta de uma prática de desenvolvimento que seria exclusiva ao Centro de Salvador. O que o senhor projeta para os bairros periféricos da capital?
O empreendedorismo e a qualificação da mão de obra. Identificar vocações no bairro também será de suma importância. Ter, por exemplo, lojas para vender lembranças e apetrechos em São Gonçalo do Retiro no entorno do Opô Afonjá.
Formar mão de obra principalmente dos jovens. Uma cidade que reside de turismo e as crianças saem da escola sem falar português? Imagine inglês? Então teremos cursos de inglês desde a alfabetização para gente que precisa. Desenvolver projetos de alta tecnologia e muito reforço na área cultural. O bairro é uma potencialidade econômica. Veja o comércio de Cajazeiras, de Itapuã, de Pau da Lima, da Liberdade e etc. São polos de crescimento econômico que precisam de disciplina e apoio técnico para prosperar. Ambulante, esqueça a perseguição. Carro do ovo, esqueça a perseguição. Eu não vou perseguir quem cria riqueza e gera emprego e renda na nossa terra. Vou disciplinar e vou orientar. Botar guarda municipal para bater em ambulante como a administração municipal faz? Página virada.
A base do governador Rui Costa tem algumas candidaturas colocadasinclusive a sua para o pleito deste ano. O senhor acha que essa fragmentação de nomes pode atrapalhar na campanha?
Acho que não. Não temos uma fragmentação de nomes e sim uma oportunidade de pensamentos diferentes para enfrentar o grave problema que Salvador passa. Uma diversidade de visões para enfrentar a crise com vários pontos de convergência. Todos nós preferimos tratar de gente ao invés de gostar de concreto, todos nós defendemos a diminuição das desigualdades sociais, todos nós somos oposição ao Pr. Jair Bolsonaro, entre outras coisas. O que nos diferencia é o detalhe da ação. Com certeza Salvador terá o segundo turno e a minha candidatura, que recebeu o apoio do governador Rui Costa e do senador Wagner no seu lançamento, será liderada pelo grupo do governador e receberá o apoio dos demais que também fazem parte.
O senhor acha que uma atuação maior do governador em prol da campanha de Major Denice (PT) estimulará alguma vantagem para a mesma na disputa?
Creio que não. Inclusive desejo sucesso para Major Denice na exposição das suas ideias, mas isso se deve por ela ser a candidata do PT. Então no horário eleitoral o governador está impedido de comparecer no meu programa, mas esteve presente na minha convenção e estará em algumas das minhas caminhadas. Eu que sou o parceiro dele de Salvador. Eu tive 55 mil votos para deputado federal andando com Rui Costa ladeira acima e abaixo. Nenhum dos candidatos esteve tão próximo de Rui quanto eu nessa caminhada. Natural que ele apoie prioritariamente a candidata do seu partido, mas no segundo turno eu terei o apoio dele, do senador Wagner, da Major Denice e de todos os outros candidatos que estão do nosso lado.
Como reverter a situação apontada nas pesquisas, que o apontam atrás até mesmo de outros candidatos da base do governo?
Com a minha experiência. Sou o candidato com a maior experiência política e administrativa e tenho a habilidade para conversar com diversos segmentos que coordenam a cidade. Sou bacharel em administração, fiz mestrado e fui professor do ensino superior na área, fui secretário municipal de educação, coordenador da Fundação Educar e tenho uma vasta experiência administrativa para educar e governar a cidade. Creio que isso é o que me levará ao primeiro lugar no bloco do governador.
Como o senhor avalia o governo federal?
Obscurantista, retrógado, negacionista, terraplanista,um governo que envergonha o país. O presidente não tinha as condições técnicas e políticas para governar o país. É um alerta que fica para Salvador: O erro de um dia, nós passamos quatro anos pagando. Então, o presidente se limita a uma pauta conservadora de costumes. Não entende nada de economia, tendo delegado ao ministro essa tarefa, não entende nada de educação e não sabe fazer articulação política né? Então o que resta é uma polêmica nova todo dia pois é isso que mantém o seu exército de seguidores mobilizado.
O seu partido, apesar de afirmar independência, tem tido grande fidelidade ao presidente Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados e aqui o senhor afirma ser oposição. Se eleito, que relação pretende manter com o governo federal?
A melhor relação possível dentro do campo institucional. A relação do prefeito da primeira capital do Brasil e de uma cidade que tem a vocação para ser o farol do futuro desse país com o presidente da nação. Tenho que ter com ele uma relação respeitosa e de colaboração, e os projetos que estamos preparando são tão bons que servirão de exemplo para todo o Brasil e para o mundo.
Como o senhor analisa o troca-troca frequente no comando do Ministério da Educação? E como avalia as ações do MEC nessa gestão?
Um crime contra os interesses das crianças e jovens brasileiros. Talvez a área educacional seja aquela que Bolsonaro tenha errado mais e onde encontramos uma situação de terra arrasada. Desmontaram todos os projetos, não criaram nada novo e focam em pautas pouco inteligentes como Escola sem Partido, Homeschooling e Escola Cívico-militar, se esquecendo dos maiores problemas dos brasileiros. Como vamos aceitar um sistema educacional no qual 50% das crianças chegam aos 8 anos de idade analfabetas? É uma loucura o que acontece no MEC e prova maior dessa incompetência está no enfrentamento da pandemia. Basta lembrar que o setor educacional foi o primeiro a suspender as suas atividades e o governo federal não tem uma palavra de orientação sequer para como sairemos desta crise. Será que o presidente espera que cada um dos 5500 secretários de educação deste país crie seu próprio modelo de gestão de crise? Sabemos que isso não daria certo. O único avanço veio com a aprovação do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação), por conta principalmente da Câmara dos Deputados, no qual eu fui o presidente da comissão. Eu consegui manter, e desculpa estar trazendo para a 1ª pessoa, mas eu consegui, junto com uma mesa diretora muito competente, dar ao Brasil o mais importante instrumento de financiamento da educação pública. Só isso faz com que eu durma toda noite de consciência tranquila com o meu mandato.
Após um ano com o ensino educacional sendo majoritariamente a distânciapara o privado, e suspenso para o público, quais os reflexos e lições que ficam a partir desse modelo?
Não podemos qualificar como sendo de qualidade a forma como essas aulas remotas estão sendo praticadas. O Brasil não tem experiência em ensino a distância. Talvez o Amazonas tenha um pouco de know-how nessa área, mas o resto do país não. As escolas particulares estão mais preparadas na sua maioria, então esse grupo, um grupo mais de elite, conseguiu suprir a falta da escola nesse período. Porém, mesmo no ensino particular, os professores não estão preparados e nem poderia estar. Hoje querem que professor seja youtuber, dando aula como youtuber e com salário de professor. E no ensino público a carência é de equipamentos. Como vão fazer educação a distância dessa forma? Como vão fazer ensino remoto se não há acesso? 15% das escolas do Brasil nem tem água, como irá ter internet? Todo o esforço nessa área tem que ser aplaudido pois seria pior não ter nada, mas é preciso afirmar que estamos colocando em risco a educação de toda uma geração. Vai haver deficiência na aquisição dos conhecimentos, muitas das crianças serão cooptadas pelo mercado de trabalho informal e por aí vai. Ou formamos uma grande brigada em defesa da nossa educação ou pagaremos ainda mais do que já pagamos em função da péssima qualidade da nossa educação.
Com sua experiência à frente da pasta da Educação, quais seus projetos para Salvador incluindo um possível começo de mandato ainda em enfrentamento à pandemia?
Pretendo testar todo alunado da rede municipal, todos os professores e todos os profissionais que trabalhem com educação. A partir daí, isolar todos os casos identificados e verificar se a rede pública de saúde da área onde a escola está localizada terá condições de identificar e atender novos casos. Com essas três condições sendo atendidas, iremos discutir o retorno das aulas.
Para concluir, como o senhor vê as dificuldades de fazer uma campanha política em um contexto de pandemia e quais os planos para convencer o eleitor de que o senhor deve ser o prefeito de Salvador?
Eu gosto de fazer campanha no meio do povo. Cantando, abraçando e conversando sobre as dificuldades, mas a pandemia está impedindo. Então temos que usar a ferramenta que nós temos que são as redes sociais. O que não vou fazer, e espero que ninguém faça, é colocar a saúde das pessoas em risco por um voto. Isso eu não farei de jeito nenhum. Cada dia dentro de mim tem aumentado um sentimento de revolta por ver que Salvador está no caminho errado. Não é justo que tanta miséria caiba em tanta beleza e eu sinto que é possível fazer melhor.
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–> Fonte: A Tarde
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Fonte: Bahia Notícias