Doar cabelo pode parecer um gesto simples, mas, para quem enfrenta o câncer de mama ou outras doenças que causam queda capilar, o impacto vai muito além da estética. É um ato de amor, solidariedade e resgate da autoestima. A Cabelegria, uma das maiores ONGs de arrecadação de cabelo do país, tem mostrado essa força transformadora há mais de uma década.
A instituição nasceu em 2013 a partir de um gesto de solidariedade: doar cabelos para pacientes em tratamento oncológico. As fundadoras perceberam como a queda capilar afetava profundamente a autoestima e a dignidade das pessoas, além de notar que o acesso a perucas era limitado e, muitas vezes, financeiramente inviável.
O que começou como uma pequena rede de amigos ganhou força nas redes sociais e se transformou em uma corrente de amor que já alcançou milhares de pacientes em todo o Brasil.
Como doar
De acordo com a ONG Cabelegria, a doação é simples e acessível:
- O comprimento mínimo é de 15 cm;
- O cabelo pode ter química (tintura, progressiva, descoloração etc.);
- O fio deve estar limpo, seco, preso em rabo de cavalo e embalado em saco plástico ou material similar que evite exposição à sujeira.
Assim, garante-se que o cabelo esteja adequado para ser aproveitado na confecção das perucas.
O destino dos fios
Após o recebimento, os cabelos são separados de acordo com cor e textura e, em seguida, encaminhados para artesãs capacitadas pela ONG.
“Atualmente temos uma cooperativa de mulheres artesãs que tecem os cabelos para nós. Nossa produção vem 100% delas. Nós as remuneramos de forma justa e elas realizam um excelente trabalho”, explica a instituição.
Todas as doações que estejam em boas condições se transformam em perucas. Para cada unidade confeccionada, são necessárias várias mechas.
Impacto em números
Em mais de dez anos de atuação, a Cabelegria já recebeu mais de 420 mil doações de cabelo e confeccionou mais de 15 mil perucas.
“Esse número representa milhares de histórias transformadas. Cada peruca entregue é muito mais do que um acessório: é um símbolo de coragem, esperança e acolhimento. Para a ONG, significa a consolidação de uma rede solidária que acredita no poder da autoestima. Para os pacientes, é a chance de se olharem no espelho e se reconhecerem novamente, com mais força para enfrentar o tratamento”, reforça a organização.
Além disso, a ONG também gera renda para costureiras e realiza projetos de conscientização, promoção da saúde física e emocional e empoderamento feminino.
Quando doar é também se curar
Entre as milhares de histórias que se conectam à Cabelegria, algumas mostram que a solidariedade pode ser também uma forma de transformação pessoal. A administradora Tays Yuki decidiu doar seu cabelo em momentos de dificuldade pessoal.
“Em três ocasiões distintas, escolhi doar meu cabelo, duas delas para a Cabelegria. Em momentos de desafios, quando me sentia impotente, percebi que doar não só poderia ajudar alguém, mas também me libertar de uma imagem que já não fazia sentido para mim”, conta.
Ela relembra a sensação de leveza e propósito após o gesto: “Ao entregar meu cabelo para uma causa nobre, me senti conectada a algo maior. Foi um lembrete de que, mesmo diante dos nossos obstáculos, podemos impactar positivamente a vida de outras pessoas. Doar é também um ato de cura e renovação pessoal.”
Já a história de Lígia Kaori traz uma reviravolta emocionante. Em 2016, logo após o casamento, ela cortou e doou seu cabelo para a ONG. Três anos depois, foi diagnosticada com câncer de ovário e, durante o tratamento, perdeu os fios.
“Os lenços e as perucas foram fundamentais no meu resgate emocional. Quem diria que aquela pequena ajuda que fiz em 2016 voltaria para mim em 2019?”, recorda.
Ao final do tratamento, Lígia fez questão de devolver a peruca à Cabelegria: “Desejei que ela pudesse levar felicidade a alguém, assim como trouxe para mim. Toda a minha gratidão à ONG e a todos os doadores.”
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Como apoiar além da doação de cabelo
A Cabelegria destaca que existem diversas formas de colaborar com a causa:
- Doações financeiras: R$10 já ajudam na confecção e R$100 cobrem a produção e o envio de uma peruca completa.
- Doação de materiais: linhas, toucas e itens usados na confecção.
- Parcerias corporativas: apoio financeiro, pontos de coleta ou suporte em projetos sociais e comunidades.
Todas as doações financeiras são destinadas integralmente á confecção e ao envio das perucas, já que a ONG não cobra nada das pacientes e realiza entregas em qualquer lugar do Brasil.
Desafios e próximos passos
Apesar do impacto positivo, a instituição ainda enfrenta dificuldades para ampliar suas ações. A ONG explicou que o maior desafio é garantir sustentabilidade financeira para manter e expandir os projetos. Informou também que há um grande estoque de cabelos que precisam ser transformados em perucas, mas esse processo depende de recursos. Segundo a organização, já foram iniciadas iniciativas como o programa Florescer, voltado à atenção psicológica, e o atendimento em assistência social, tanto presencial quanto virtual, mas ainda de forma limitada. A entidade destacou, ainda, que o objetivo é expandir esse acolhimento integral às pacientes.
Mais que fios, histórias de esperança
Com milhares de perucas já distribuídas e tantas histórias de vida impactadas, a Cabelegria prova que solidariedade pode ser multiplicadora. Doar cabelo é doar auto estima, esperança e a certeza de que, em meio ao tratamento, ainda há espaço para sorrisos.
Fonte: BNews