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“Não tenho dúvida de que o ensino híbrido veio pra ficar”, diz Chaim Zaher

À frente do Sistema Educacional Brasileiro (SEB), o empresário Chaim Zaher diz que a pandemia do coronavírus gerou impactos não só sobre a educação, mas sobre o mundo inteiro. Para ele, “foi fantástico” ver os professores se adequando à conjuntura atual. “Uma coisa a pandemia provou para todo mundo: você tem que estar preparado para tudo”. E o brasileiro está. Responsável pelo conglomerado, que fatura cerca de R$ 800 milhões por ano, sendo 90% das operações na educação básica, Chaim Zaher diz não ter dúvida “de que o ensino híbrido veio pra ficar”. Questionado sobre o momento exato de retomar as aulas presenciais no país, disse que a rede privada “com certeza não está com o ano letivo comprometido”. E emendou: “Deixem que os pais definam a hora do retorno com a área de saúde, com as escolas”, afirmou, ao destacar que “politizar a educação é um erro”.

A frente do Sistema Educacional Brasileiro (SEB), o senhor chegou ao interior de São Paulo ainda criança e ali construiu um verdadeiro império da educação. Como se tornou responsável por uma das maiores multinacionais do setor educacional do Brasil?

Na verdade, foi coisa do destino. Em árabe a gente costuma dizer “maktub”, está escrito. Eu morava em Araçatuba e, de repente, fomos morar em outra cidade do interior de São Paulo. Fiquei lá um tempo e queria voltar para Araçatuba. Meu irmão fazia odontologia lá e trabalhava em um cursinho pré-vestibular. Aí ele me chamou para ir pra lá, pra poder trabalhar na área de educação, fazer de tudo. Aí fui, comecei a fazer matrícula na casa das pessoas. De repente eu me vi já envolvido nessa parte toda, daqui a pouco fui ser porteiro, fui buscar professor… Eu quis aprender o que é que era cursinho, o que era educação. E ali eu me encantei, comecei a gostar muito, me identifiquei e comecei a atuar. Comecei a trabalhar ali, quando surgiu uma oportunidade de um cursinho pré-vestibular de São Paulo, que fazia parceria e convidou meu irmão, porque ele era da odontologia, para ele poder montar com eles. E ele me falou: “meu irmão, o pessoal me chamou e me ofertou para entrar junto”. Eu acabei ali tendo a oportunidade de montar meu primeiro negócio, meu primeiro cursinho pré-vestibular em Araçatuba, em 1972, 1974, não recordo a data exata. Aí eu montei o cursinho pré-vestibular e ali começou a minha história na educação.

E nessa história na área da educação, hoje o senhor está à frente de mais de 260 escolas, movimenta cerca de R$ 800 milhões por ano, com 90% dessas operações voltadas para o ensino básico. Como o grupo está distribuído em todo o Brasil?

Na verdade, lá em Araçatuba surgiu uma oportunidade, que é o conceito da história. Não foi de repente sair para Araçatuba… Surgiu uma oportunidade de eu vir para Ribeirão Preto com o Objetivo. Como eu queria fazer uma parceria com eles, eu fui para ser sócio deles, do Objetivo. Depois surgiu uma oportunidade do COC, porque foi o COC que acabou sendo minha alavanca nessa área de educação. Isso depois de muito tempo atuando com cursinho, montando colégio. Não foi de repente e “puf”. Teve muita história por trás disso. Eu acabei indo para Ribeirão, quando surgiu a oportunidade de comprar o COC nesse meio. Sabe aquela coisa predestinada para acontecer? Surgiu a oportunidade do COC, eu estou no Objetivo, aí eu acabei comprando o COC, acabei mudando para Ribeirão depois de muitos problemas inclusive. Na época de comprar o COC, eu ia pegar um empréstimo e o cara que ia me emprestar acabou meio que quebrando e eu acabei entrando no negócio porque acreditava muito. Ali no COC, peguei uma escola com 1800 alunos, com 900 bolsas e 500 alunos de parceria e transformei depois em 500 mil alunos nessa área de sistema de educação. Foi o COC que me deu essa possibilidade de crescer, porque lá eu acabei abrindo algumas unidades, inclusive em Salvador, junto com o Aloysio (Adolfo Nery). Ele foi meu parceiro, passou a ser meu sócio, quando compramos o Sartre. E no Sartre também começamos muito pequenos e hoje é o maior do grupo. Aí surgiu a oportunidade de abrir o capital em 2007. Depois a abertura do capital deu a oportunidade de fazer novas aquisições, fizemos a aquisição do Dom Bosco e diversas outras unidades. Abrimos mais em Maceió, abrimos em Vitória, abrimos em Brasília, e aí deu uma musculatura maior para o grupo. E também entramos em curso superior. Nesse meio tempo de abertura de capital, aparece a Pearson querendo comprar o sistema de ensino, acabou ficando com o sistema de ensino e nós voltamos com a educação básica. E depois, tendo curso superior, veio a Estácio, que queria fazer uma associação e fizemos. Eu me tornei o maior acionista da Estácio, por intermédio da UniSEB, e depois que isso ocorreu, aí sim, voltamos para o grupo de escolas próprias.

Quais operações o senhor e o grupo mantêm aqui na Bahia?

Na verdade, nós temos as escolas próprias e nós temos também as franquias. Hoje o grupo é detentor da marca Maple Bear, você deve conhecer, tem aí também na Bahia. A Maple Bear é uma escola canadense, que é a maior do mundo, é a melhor, a mais conceituada. Ela tem no Brasil inteiro. É tudo franquia, inclusive, em Salvador temos duas ou três, não me recordo. E depois da Maple Bear, nós tentamos fazer o Maple Bear Mundial. Hoje estamos no mundo inteiro, exceto em alguns países. Acabamos de entrar agora na Austrália. Então isso impulsionou o grupo e fez com que ele ficasse internacional. Aí na Bahia hoje nós temos a operação com a Concept, que é um conceito totalmente revolucionário, renovador. Temos o Sartre, que é tradicional e é a nossa maior operação hoje graças ao trabalho que o Aloysio vem promovendo com toda a equipe de Salvador. E temos também a franquia do Maple Bear em Salvador.

O grupo sempre investiu muito na tecnologia e na inovação. Que avaliação o senhor faz da pandemia e os impactos que ela teve sobre a educação?

É, a pandemia gerou impactos não só sobre a educação, mas sobre o mundo inteiro. Na educação teve menos, até porque nós conseguimos fazer com que tivesse aula na casa dos alunos. Claro que não é a mesma coisa, mas foi o melhor que pode ser feito. Inclusive, os alunos tinham aula com os próprios professores. Cara, e a coisa mais impressionante foi ver esses professores, como é que eles se readequaram, como é que eles se readaptaram, como é que eles se movimentaram… Foi fantástico ver o professor se adequando à atual conjuntura, porque o professor não estava preparado para isso. Mas dizer que nossa estrutura estava, estava sim, tanto que a gente já tinha ensino à distância, na educação superior. A gente já estava fazendo, mas não para crianças de dois, três, quatro, cinco, seis anos. Você imagina, você deve ter tido aquela primeira professora que pegava na mão, contava história. Imagina essa professora ter que contar história à distância para o aluno. Tem que se reinventar. Tem que se reciclar. E olha, eles foram fantásticos. Os professores foram geniais, sabe por quê? Eu comparo, como eles falavam também de enfermeiro, de médico, é igual, porque o aluno se não tiver algo para fazer, ele vai ficar doente. Aliás, vai saber se eles não estão doentes, porque emocionalmente fez muito mal para os alunos. Por mais que você diga, olha, tem aula, não vai perder o ano. Mas não é a mesma coisa. Crianças precisam ter convivência com os amiguinhos, elas precisam enxergar o colega, precisam ter convivência social, precisam correr, brincar, sabe? E mesmo os adultos, os alunos mais velhos, também precisam ter convivência social. Agora, uma coisa a pandemia provou para todo mundo: você tem que estar preparado para tudo. E o brasileiro está sempre preparado para isso. Não são os mais fortes e nem os mais inteligentes, mas são aqueles que mais se adequarem à realidade. E o brasileiro sabe fazer isso muito bem. Então, nós conseguimos fazer frente a isso e alunos também se adequaram. Então, o ensino híbrido veio para ficar.

Então esse formato híbrido, que a pandemia trouxe à tona, só fez antecipar um processo que já havia sido iniciado. Esse é um modelo que veio pra ficar?

Claro. Não só veio para ficar, como pra ter continuidade. Eu não te diria que você vai ter as aulas todas online, em casa. De novo, o aluno precisa ter convivência com pessoas, com os amigos. Agora, é claro que por outro lado, precisamos respeitar a saúde, precisamos ver o que é que vai acontecer. Porque o vírus também veio para ficar, nós vamos ter que nos adequar a ele. Vamos ver, vem a vacina, vamos ter que incluir dentro do nosso portfólio de vacinas todo ano. Nós sabemos disso. Agora o que precisa é tomar cuidado nesse momento. Enquanto a vacina não vem, tem que tomar cuidado e nossas escolas estão preparadas para isso. Se as aulas começarem amanhã, aquelas orientações, inclusive o Einstein de São Paulo que está com consultoria, tudo aquilo está pronto. Menos alunos, 35%, mas não é todo dia que vai ter aula. Pelo menos esse ano, com certeza não. Vem a metade, 1/3. A outra metade fica em casa, aquelas aulas que estão tendo, ele vai vendo da casa dele. Então não tenho dúvida de que o ensino híbrido veio para ficar.

Uma discussão que acontece agora em todo o país é justamente sobre o momento exato de retomar as aulas presenciais. Que avaliação o senhor faz? O ano letivo de 2020 já está comprometido na rede pública e privada do país?

A rede privada com certeza não está com o ano letivo comprometido. Porque os alunos estão tendo aula. A pública depende de cada local. Agora, o que não pode acontecer, o que a gente está vendo, é que a educação, ao invés de ser delegada para o pai, para o aluno, para o professor, para as escolas, principalmente as privadas, que elas tenham contrato… O pai não é obrigado a mandar o filho para a escola. Eu acho que a escola, com a sua responsabilidade, com seus educadores, tem que sentir qual é a hora adequada de trazer os alunos. E, naturalmente, eles não vão fazer loucuras e trazer os alunos sem estar preparados. E os pais estão muito inseguros. O problema não são os alunos, são os pais que estão com medo e que não deixam de ter razão. Você olha a imprensa, você olha os jornais e só se fala nisso. Mas cara, veja só. O que nós não podemos é usar a política e o judiciário para definir se volta ou não. Eu acho que isso tem que deixar para a saúde, pais, alunos, professores, diretores e escolas. Porque aí se o pai não quiser, não estiver confortável, ele tem a aula dele em casa. Eu não posso dizer quanto à rede pública, mas a rede privada com certeza ela está preparada para isso, muito bem preparada. Agora, pode ter perigo, como em qualquer lugar. Então na praia não tem problema? No bar pode abrir? No shopping você pode ir? Sim, e aí? Dizer que você pode levar no shopping, que pode viajar… Olha só os aviões… Eles voltaram a voar um do lado do outro. Fechado, sem ar-condicionado. Quer dizer, tudo isso é uma questão de ponderações. Eu acho que isso tem muito uso político e muita gente querendo se promover em cima. Eu conheço muito bem o prefeito aí de Salvador, o ACM Neto. Ele é fantástico, um profissional que já demonstrou a sua capacidade de trabalho. Tenho convicção que para a rede pública ele vai ver qual a melhor hora, ele tem investido em educação. Mas as privadas, com certeza, elas estão preparadas, principalmente as nossas escolas. Então, meu recado é: deixem com que os pais definam com a área de saúde, com as escolas, a hora do retorno, e elas vão se responsabilizar perante isso.

Há muita politização dessa questão da educação hoje no país. Isso é um erro?

É sim. Politizar a educação é um erro. Não só um erro, como não deveria acontecer. A educação deveria ser tratada como uma doença, cara. Os alunos e os pais estão doentes emocionalmente hoje. Tem que trabalhar o emocional do pai, do aluno. Os alunos não aguentam mais. Por isso que não pode pressionar muito. Que se faça de uma maneira adequada, que se faça de uma maneira segura. Mas não pode mais segurar do jeito que está sendo segurado. Eu acho que pode levar menos alunos, intercalar por períodos. O que não pode é deixar em quarentena total para todo mundo, ninguém sai de casa, ou então se libere também para que os alunos possam ver os colegas, respirar um pouquinho, sair de casa. O pai vai trabalhar, está todo mundo voltando ao trabalho. E aí, deixa o filho aonde? O privado ainda tem uma casa boa, se vira, tem computador em casa. E o público? Aquele que não tem nada em casa, que depende da escola pública até para comer? Tem aluno ali que a merenda escolar são as cinco refeições que eles comiam. Então, na verdade, deveria liberar, sabe. Eu não te diria, de novo, a questão de Salvador, que não estou acompanhando de perto. Mas nas privadas, na maioria do país, tem muita gente se utilizando desnecessariamente dessa politização.

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–> Fonte: A Tarde

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