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Até a emoção é forjada
Em o livro Infocracia: Digitalização e a crise da democracia, Byung-Chul Han, filósofo que saiu da área de metalurgia na Coreia do Sul e fez toda a sua formação acadêmica em Berlim, analisa o modo como a sociedade contemporânea é governada não mais pelo conceito de verdade, mas pelo fluxo incessante de informação e emoção. Para ele, vivemos sob um novo regime — a infocracia — em que a superabundância de dados não esclarece, mas entorpece a capacidade crítica. A verdade, que antes estruturava o debate público, dissolve-se diante da velocidade com que conteúdos circulam. Nesse ambiente, o que importa não é o valor do argumento, mas sua capacidade de gerar reação, engajamento, visibilidade, e mais recentemente emoções. Tem-se criado cenas com IA para tornar verdade, nada mais que apenas uma criação cibernética. Foi o caso de um menino que ajoelhou e orou a Jesus, porque estava preso no elevador, e a porta se abriu…Han afirma que o poder informacional se apoia em uma economia da atenção, sustentada por algoritmos que recompensam o emocional e o imediato. A racionalidade cede espaço ao afeto: a política se transforma em espetáculo e a comunicação em um jogo de ilusionista, onde cada um busca confirmar suas próprias crenças. A consequência é a erosão da esfera pública e o declínio do pensamento crítico, substituído por opiniões impulsivas e polarização, e quase sempre sem qualquer embasamento de real saber. Aclama-se o achismo como nova ciência.
A infocracia, portanto, não é o domínio do saber, mas da saturação: quanto mais informação, menos compreensão. O filósofo aponta que o excesso de transparência e exposição converte o sujeito em produtor e consumidor de si mesmo, prisioneiro de uma visibilidade constante. Nesse cenário, a inteligência artificial e as redes sociais amplificam a lógica da performance, produzindo um mundo em que a emoção suplanta o real e o like se torna medida de verdade, convalidação, aceitação de pessoas.
Han alerta, por fim, que resistir à infocracia exige recuperar o silêncio, a pausa e a reflexão, condições indispensáveis para o pensamento e para o bem-estar. Em meio ao ruído informacional, pensar se torna um ato de resistência.
Fonte: BNews