Saúde

Prefeitos das 4 cidades sem Covid-19 na Bahia fazem ‘o óbvio’ e contam até com ‘Deus’

Mais de cinco meses após o primeiro caso de coronavírus ser registrado na Bahia, apenas quatro dos 417 municípios do estado ainda estão livres da doença: Canápolis, Brotas de Macaúbas, Ipupiara e Novo Horizonte. São cidades pequenas, com cerca de 10 mil habitantes, situadas nas regiões Oeste e Centro-Sul. Esses municípios aparentam não ter feito nada além do óbvio para conter a Covid-19. É possível até adivinhar: barreiras sanitárias, distribuição de álcool em gel, distanciamento social e informação. Mas alguns também apelam para a proteção divina.

 

Todas têm pouca ou nenhuma estrutura para lidar com eventuais surtos de Covid-19, que na Bahia já foi diagnosticada em 229.743 pessoas e provocou 4.757 mortes até esta sexta-feira (21). Em Canápolis, por exemplo, só há unidades básicas de saúde. Já em Brotas de Macaúbas, há apenas um respirador, aparelho essencial para pacientes em situação grave provocada pelo novo coronavírus. 
 

Para saber o que essas cidades fazem para impedir a chegada do vírus, o Bahia Notícias procurou as prefeituras delas. Em geral, informam que o comércio chegou a ser fechado em março, quando o governo do estado decretou as primeiras ações de combate à pandemia, mas já flexibilizaram as restrições, com a liberação das atividades não essenciais.

 

Neste sentido, as gestões dizem contar com o apoio de seus habitantes, que respeitam as medidas de distanciamento social e aderiram ao uso obrigatório de máscaras, além de coordenar o trabalho feito nas cidades com as diretrizes definidas pelo governo do estado. 

 

Posição das cidades baianas sem caso de Covid-19 | Foto: Google Maps (clique para ampliar)

 

Veja abaixo ações adotadas nas cidades onde, oficialmente, a Covid-19 ainda não chegou:

 

Foto: Divulgação / Prefeitura

BROTAS DE MACAÚBAS
Mais de uma vez, Brotas de Macaúbas entrou na lista de cidades com casos de Covid-19 na aba “aguardando validação do município” do boletim diário divulgado pela Secretaria de Saúde do Estado. Dias depois, no entanto, a informação era alterada e a cidade situada a 622 km da capital baiana retornava ao pequeno grupo ainda sem registros da doença. 

 

“Às vezes a pessoa já não mora aqui, mas no cartão do SUS consta a cidade natal, aí a gente tem que correr pra informar ao estado que a pessoa não mora no município”, explica o prefeito Litercílio Júnior (PT), ao destacar que a equipe de vigilância está “bastante antenada e dinâmica”, em entrevista ao Bahia Notícias. Dados da gestão municipal indicam que não há nenhum caso suspeito, mas 93 pessoas que estiveram em “áreas de risco” estão sendo monitoradas até a manhã desta sexta-feira (21).

 

Como em boa parte dos municípios baianos, o comércio foi fechado em meados de março, mas a restrição severa durou cerca de um mês. De acordo com o prefeito, a pressão do setor culminou na liberação das atividades não essenciais, que hoje funcionam sob regras que visam manter o distanciamento. Já espaços como bares e feiras funcionam apenas com serviço de entrega. “Nós criamos um programa chamado ‘Brotas Delivery’ em que a gente cadastrou todos os agricultores familiares. A gente não teria condição de, nesse momento, abrir a feira porque não temos perna pra fiscalizar nas condições que a secretaria do estado preconiza”, esclarece Júnior.

 

Entre as ações ainda em vigor estão as barreiras sanitárias, implantadas na sede e no povoado de Cocal, a 130 km do centro da cidade, a formação de equipes volantes para monitorar a situação dos povoados mais distantes e a criação do canal “Disque Saúde”, para citar alguns exemplos. Desde o último dia 11, a cidade também aderiu ao toque de recolher adotado na região.

 

“Tem muito brotense em São Paulo e tal. Então, quando fecharam esses espaços, eles vieram todos pra o interior e aí a gente criou o Disque Saúde para que quando chegasse alguém de fora logo fosse comunicado à prefeitura, para essas equipes visitarem as famílias e orientarem, criando as condições de segurança”, explica Júnior, acrescentando ainda o uso de carros de som que circulam pela cidade, emitindo os alertas da prefeitura, e o apoio das lideranças religiosas, que ajudam a conscientizar os cidadãos. 

 

De acordo com o prefeito, a gestão permanece em estado de alerta porque os municípios no entorno já têm casos da doença, além do fato de que a cidade abriga parques eólicos em fase de construção e funcionários das obras, que são de outros municípios, frequentemente viajam para Brotas de Macaúbas. “Fomos pra dentro da empresa conversar sobre os decretos e fazer triagem pra restringir a vinda do pessoal de fora. Nós não aceitamos a vinda deles pra não colocar em risco a vida dos outros, mesmo sabendo que energia é um bem social”, ressalta.

 

Quanto à cobertura de saúde, o prefeito explica que foi montada uma estrutura de isolamento no único hospital da cidade e criado também um centro de atendimento para coleta de exames de coronavírus. Em meio a isso, como mais uma forma de preservar a saúde de portadores de outras comorbidades, a gestão municipal instituiu o programa “Medicamento em Casa”, que entrega gratuitamente remédios de uso contínuo na residência de pacientes com diabetes, glaucoma, hipertensão e outras doenças.

 

Foto: Reprodução / Facebook

 

CANÁPOLIS
O primeiro impulso da Prefeitura de Canápolis, na região Oeste, foi seguir o governo do estado. Segundo o secretário de Saúde da cidade, Jildevan Ursino, logo que os primeiros decretos em prol do distanciamento foram publicados pelo governador Rui Costa (PT), a gestão municipal decretou o fechamento do comércio e suspendeu atividades não essenciais para evitar aglomerações.

 

“Desde o início, mantemos barreiras sanitárias. Não proibimos em momento algum a entrada dos canapolenses, mas quando é alguém de Brasília, de alguma cidade onde tinha casos já confirmados, a vigilância faz a orientação do isolamento e acompanhamento”, disse Ursino em entrevista ao Bahia Notícias. Canápolis faz divisa com Santa Maria da Vitória, que até o último boletim da Sesab registrou 132 casos de Covid-19, e Santana, que possui 21. Ainda assim, os dados oficiais indicam que o vírus não chegou ao município baiano. Até a manhã desta sexta-feira, a cidade tem dois casos suspeitos, aguardando resultado de exames, e 448 pessoas monitoradas.

 

No momento, as aulas continuam suspensas, mas o comércio já foi liberado. De acordo com Ursino, os horários estão limitados e estabelecimentos como bares e restaurantes funcionam apenas no modelo de delivery.

 

Quanto às condições de atendimento, ele destaca que a cidade possui apenas unidades básicas de saúde e precisou adaptar um centro de atendimento à Covid-19 para receber eventuais casos confirmados. “Acrescentamos uma psicóloga à equipe porque acreditamos que o psicológico fica muito abalado nesses casos, mas [a cidade] não tem estrutura para internação”, salienta o secretário.

 

Foto: Divulgação

 

IPUPIARA
Com pouco mais de 9 mil habitantes, segundo último censo do IBGE, Ipupiara tem cinco entradas e saídas, o que facilitaria a chegada do coronavírus. Uma dessas ligações leva a Gentio do Ouro, que já soma mais de 170 casos de Covid-19. 

 

Morpará e Barra do Mendes, que também ficam na rota de Ipupiara, têm mais de 40 casos até esta sexta-feira (21). Segundo o prefeito de Ipupiara, Acir Leite (PP), todo o comércio está praticamente aberto até as 20h, o que inclui bares e lanchonetes. Após o horário, os estabelecimentos ainda podem fazer entregas em domicílio. No entanto, ele diz que algumas ações fizeram a diferença, como a adesão às máscaras. “É quase 100%. A população aceitou isso desde o começo”, disse ao Bahia Notícias.

 

Além da proteção facial, Acir Leite conta que a higienização completa nos espaços da feira livre e nos carros que chegam ao município também são ações que deram resultado. O gestor disse que o trabalho acabou servindo para diminuir os casos de gripe comum. No ano passado foram 199 casos, enquanto que até julho desse ano a cidade teve 65 registros de influenza.

 

O secretário municipal de saúde, Antônio Sodré Figueiredo, creditou até a providência divina para o fato de a cidade ainda estar zerada de Covid-19. “No final das contas é Deus que está nos ajudando. Porque tem chegado é gente de São Paulo, de Salvador, que mora fora”, especulou. Um dos fatos que podem explicar a “imunidade” do município é que a maioria dos testes só começou a ser feita em maio e em número reduzido. 
 

Foto: Catedral do Livramento

NOVO HORIZONTE
A 161 quilômetros dali, em Novo Horizonte, o prefeito Djalma Abreu dos Santos vive realidade semelhante. Começou a fazer os testes em abril com pessoas que contavam ter sintomas e com aquelas que tiveram contato com suspeitos. O município já está há mais de cinco meses com barreiras sanitárias, sem transporte e a feira livre só permite vendedores locais. O prefeito declarou também que todos os dias as áreas com maior movimento passam por desinfecção, assim como as mercadorias que chegam de fora. Isso, segundo ele, desde o começo da pandemia. 

 

Djalma dos Santos considera que o acesso ao município, só por uma estrada, também tem uma parcela no freio ao coronavírus. “A BA-152 não ultrapassa Novo Horizonte. Ela para no município, e esse é um fator importantíssimo”, afirmou. Apesar dos 12,5 mil habitantes, com 4,6 mil na sede [IBGE], Novo Horizonte tem 62 povoados, o que exige algum trabalho para impedir a circulação do vírus.

 

As casas espaçadas uma das outras ajudam, mas segundo Djalma o acordo com a população é que faz o trabalho vingar. “O principal ponto é a interação da comunidade com a gestão. Sem a participação da sociedade, fica praticamente impossível dar certo”, avaliou.

Fonte: Bahia Notícias

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