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“O dia não se resume ao grito no Ipiranga”, diz historiador sobre Sete de Setembro
“Independência ou Morte!”, teria gritado o então imperador do Brasil, Dom Pedro I, há quase 200 anos, em um Sete de Setembro às margens do Rio Ipiranga, em São Paulo. Considerada um marco para a história do Brasil e crucial para a democracia de hoje, a data também teve a programação habitual alterada pela pandemia do novo coronavírus. Neste ano, o tradicional desfile cívico que lota as ruas da Avenida Sete de Setembro, em Salvador, precisou ser adiado na capital baiana e em outras cidades país afora.
Tudo começou lá na primeira metade do século XIX. Abalada pela invasão de Napoleão Bonaparte à Portugal, a família real escolheu o Brasil, para se refugiar, elevando sua então mera colônia a reino. Anos mais tarde, a monarquia decide retornar à Europa, mas em uma verdadeira “tacada de mestre”, Dom João VI, com medo de perder o cobiçado trono por aqui, deixa seu filho Pedro I como príncipe regente para governar.
“O Sete de Setembro no imaginário social se criou como se tivesse acontecido da noite para o dia. Mas para o desenvolvimento político e social não foi assim, existe todo um contexto político por trás. O dia não se resume ao grito no Ipiranga”, explica o historiador e professor Cleiton Mesquita.
Ele destaca que uma das principais causas da proclamação foi a desobediência de Dom Pedro para com Portugal. O gosto pelo Brasil, entre outros fatores, acabaram fazendo com que o príncipe se recusasse a voltar à terra de seus pais e ainda declarasse a independência no futuro. Neste processo, ele chegou até mesmo a convocar uma assembleia constituinte para formular a Constituição Brasileira.
“Existem cartas e documentos mostrando ele desobedecendo as ordens de retornar à Portugal, gerando o evento de nove de janeiro, o ‘Dia do Fico’ e aquela frase famosa: ‘se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto!’. Os brasileiros também queriam que ele ficasse para garantir que houvesse a chance da independência”, conta o historiador.
Para além de Dom Pedro I e sua representação imponente vista nos livros de história, Cleiton diz que o bastião dos personagens principais do Sete de Setembro inclui ainda o liberal e abolicionista José Bonifácio e a esposa do imperador, a princesa Maria Leopoldina da Áustria. “De fato, ela foi muito valorosa, uma das pessoas que influenciaram a permanência de Dom Pedro no Brasil. Pena que é pouco lembrada”, lamenta.
Foi por influência de Leopoldina, inclusive, que as margens do Rio Ipiranga acabaram eternizadas pelo ato. Inteligente e politizada, ela aconselhou o marido a fazer algumas viagens pelo país para convencer os líderes das regiões a se unirem ao pensamento de um Brasil forte e soberano.
“Nesse momento, com Dom Pedro em viagem, ela envia uma carta pedindo para que ele antecipasse a independência, pois soube que tropas portuguesas iriam invadir o país. Justamente no dia que recebeu a mensagem, o imperador estava às margens do Ipiranga. Não é que tenha sido intencional ir até o rio e gritar ‘independência ou morte. Ele precisou acelerar o processo. Aconteceu ali, mas que poderia ter sido em qualquer outro lugar”, esclarece Cleiton.
Bahia decisiva
A relação nem sempre é lembrada, mas deveria. O Dois de Julho, que marca a Independência da Bahia, foi na verdade, fundamental para todo o país, segundo Cleiton e diversos outros historiadores. Foi em solo baiano que a última batalha decisiva contra os insistentes portugueses foi travada.
“A independência vai se consolidar mesmo na Bahia. O conflito do Dois de Julho ocorreu porque as tropas portuguesas tentaram ocupar o Brasil pelo Nordeste, justamente devido ao apoio dos senhores de engenho. Muitos portugueses moravam na Bahia e preferiam que o país voltasse a ser colônia. Foi daqui que a gente literalmente expulsou os portugueses por mar adentro pra eles voltarem para a Europa”, diverte-se.
Por isso, o professor defende que os dois conflitos deveriam ser abordados juntos. “Sendo a Bahia o palco final, eu acho um erro deslocar o Dois de Julho da Independência do Brasil. Como se fossem exemplos separados, mas o contexto é o mesmo. Poderíamos falar de uma grande independência cujo fim foi na Bahia”, opina.
Tradição conectada
Para não deixar a data passar em branco, algumas cidades acabaram recorrendo a tecnologia, a fim de criar cerimônias virtuais. Em Catu, município distante 91,6 km de Salvador, por exemplo, uma live comemorativa ocorre nesta segunda, às 17h.
Quem já garantiu a presença foi o técnico em segurança do trabalho, João Marcelo, 40. Ele, que é instrutor e coordenador de fanfarras na cidade, além de vice presidente da Fanfarra Musical de Catu (FAMUC), desfila há mais de 15 anos no Sete de Setembro.
Neste 2020 atípico, João terá que se adaptar ao formato reduzido, que não permite a habitual aglomeração dos integrantes dos grupos musicais. Apesar disso, ele, que está a frente da organização da live junto com uma das 12 fanfarras de Catu, diz que é necessário comemorar. “Ensinamos as crianças e jovens a apreciarem e valorizarem esse dia de Independência do Brasil”, pontua.
“Acredito que a data é um legado. Houve participação popular, você vê sobretudo aqui na Bahia, mulheres, escravos, populares pegarem em armas, combaterem pelo Brasil e isso é importante. Acho que pode despertar um sentimento de querer se desprender do velho. Não estou dizendo para descartar o passado, mas procurar melhoras no sentido político e social. Buscar a unidade, um pensamento hegemônico de bem comum”, ressalta o historiador Cleiton.
*Sob supervisão da editora Keyla Pereira
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–> Fonte: A Tarde
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